Comunicado do anarquista preso Fernando Bárcenas

Mensagem recebida por e-mail 04/09/2017:

Em primeiro lugar, esta é uma carta de esclarecimento, acredito que é difícil para as pessoas entender posições, idéias e formas de luta que sobrepõem violentamente os valores desta sociedade.

Então, neste sentido, quero esclarecer: quando digo que rejeito todas as formas de mediação e neguei ter representantes, falo não apenas de organizações e partidos políticos, mas de qualquer pessoa que tente controlar minha vida e use minha condição de prisioneiro para manipular e/ou anular minhas palavras e pensamentos.

No entanto, essa reflexão é muito mais profunda do que você pensa, porque, nos ambientes de pessoas supostamente conscientes da dominação, prevalecem muitos valores autoritários que sem querer e às vezes inconscientemente perturba e contribui ainda mais para impedir as pessoas que se pretende ajudar de alcançarem sua liberdade.

Uma dessas formas, por exemplo, é atribuir à família dxs presxs o poder de decidir o que é bom ou certo fazer para exercer pressão ou não no sentido de um adiantamento na libertação de companheirxs ou a expansão da revolta contra a prisão “fora” das paredes.

Quando um presx que não reconhece nenhuma representação manifesta essa posição, também fala de seus familiares e pessoas mais diretas, porque apesar de serem vínculos emocionais em sua vida, é necessário lembrar que a família é o núcleo e a primeira instituição que fomenta e reproduz esta prisão/sociedade.

Os valores da família tradicional burguesa reproduzem o domínio e a subordinação dos membrxs à estrutura estatal e, por essa mesma razão, reproduzem a dominação nas relações familiares que, disfarçadas de amor e carinho, entendidos à maneira burguesa, só degeneram em mais dominação.

Talvez os membros da família nunca o façam com a intenção de prejudicar xs entes queridxs, ao contrário, mas isso é algo que o sistema de dominação conhece bem e depois usa as famílias dxs presxs (por exemplo) para impedir qualquer ato de luta que possa vir de parceirxs afines que entendem que, enquanto alguém (família ou amigxs) continuar a dialogar e fazer o jogo estatal, não haverá maneira real de atacar seus interesses e retardar a repressão…

Fernando B.

Reclusório Norte, Cidade do México, 31/08/2017

tradução por tormentas de fogo

via CONTRAINFO

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