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Outro comunicado do anarquista preso Fernando Bárcenas

Mensagem recebida por e-mail 04/09/2017:

“Para xs compas rebeldes e aquelxs que não entendem o mundo à sua volta

Mais uma vez estou aqui escrevendo neste espaço de reflexão que me permite conhecer a mim mesmx e entender um pouco mais que sou livre, apesar de tudo.

É verdade que eu tenho estado num silêncio imposto por mim mesmx por vários meses porque meu humor está mudando, como tudo na vida, e às vezes eu gosto da solidão…

No entanto, agora que retomei o desejo de escrever, quero fazê-lo principalmente por 2 coisas; primeiro, para reiterar minha posição de guerra diária, porque às vezes algumas pessoas esquecem ou fingem esquecer que vivemos na guerra. E em segundo lugar, para esclarecer algumas coisas e questionar os outros sobre como aqui de dentro a solidariedade dxs compas no lado de fora.

De qualquer forma, para aqueles que não sabem muito sobre essas questões, serei breve em dizer que desde dezembro de 2013 sou prisioneiro por ousar atacar e questionar o modo de vida que nos impõe. Por essa razão, a postura do inimigo (o estado e o grande capital financeiro) foi clara, não haverá trégua, não há nenhum jeito de que alguém, consciente de sua rebeldia, que enfrenta sua realidade ditando suas próprias regras, possa deixar a prisão física, pois é um perigo potencial para a sua sociedade.

A prova disso é que mesmo na prisão, passei 3 de 4 anos em zonas de segregação, por manter uma atitude consistente com minhas idéias…

No entanto, isso não é tudo, mas eles também fizeram tudo de possível para impedir todos os procedimentos legais e recursos juridicos.

A única maneira de fazê-los ceder é ante a uma força maior, isto é, a força da solidariedade…

Agora, eu também quero esclarecer que nunca convoquei uma campanha pela minha liberdade. Pois se eu bem penso que seja necessário sair detrás dos muros, acho que isso deva ser feito de maneira que provoque uma ruptura e até mesmo a luta pela liberdade dxs compas presxs se torne um detonador, uma faísca que pode inflamar o resto de a população e, finalmente, entendo que não se pode lutar contra a prisão sem lutar contra toda a sociedade…

É por isso que sempre nos rebelamos pelas ruas, que são os grandes corredores que aprisionam nossos sonhos…

Então, isso é uma incitação à revolta e à atividade, não só para minha liberdade, mas para a liberdade de todxs.

Você não precisa de jornadas de luta ou de uma organização que lhe diga o que fazer, teste sua criatividade, vandalize os estabelecimentos, coloque faixas nas pontes, detone dispositivos explosivos, obstrua os canais de comunicação, deixe os de cima saberem e compreendam que eles não podem te controlar.

A guerra segue até que todxs sejam livres!

Fernando B.

Reclusório Norte, Cidade do México, 31/08/2017

tradução por tormentas de fogo

via CONTRAINFO

Comunicado do anarquista preso Fernando Bárcenas

Mensagem recebida por e-mail 04/09/2017:

Em primeiro lugar, esta é uma carta de esclarecimento, acredito que é difícil para as pessoas entender posições, idéias e formas de luta que sobrepõem violentamente os valores desta sociedade.

Então, neste sentido, quero esclarecer: quando digo que rejeito todas as formas de mediação e neguei ter representantes, falo não apenas de organizações e partidos políticos, mas de qualquer pessoa que tente controlar minha vida e use minha condição de prisioneiro para manipular e/ou anular minhas palavras e pensamentos.

No entanto, essa reflexão é muito mais profunda do que você pensa, porque, nos ambientes de pessoas supostamente conscientes da dominação, prevalecem muitos valores autoritários que sem querer e às vezes inconscientemente perturba e contribui ainda mais para impedir as pessoas que se pretende ajudar de alcançarem sua liberdade.

Uma dessas formas, por exemplo, é atribuir à família dxs presxs o poder de decidir o que é bom ou certo fazer para exercer pressão ou não no sentido de um adiantamento na libertação de companheirxs ou a expansão da revolta contra a prisão “fora” das paredes.

Quando um presx que não reconhece nenhuma representação manifesta essa posição, também fala de seus familiares e pessoas mais diretas, porque apesar de serem vínculos emocionais em sua vida, é necessário lembrar que a família é o núcleo e a primeira instituição que fomenta e reproduz esta prisão/sociedade.

Os valores da família tradicional burguesa reproduzem o domínio e a subordinação dos membrxs à estrutura estatal e, por essa mesma razão, reproduzem a dominação nas relações familiares que, disfarçadas de amor e carinho, entendidos à maneira burguesa, só degeneram em mais dominação.

Talvez os membros da família nunca o façam com a intenção de prejudicar xs entes queridxs, ao contrário, mas isso é algo que o sistema de dominação conhece bem e depois usa as famílias dxs presxs (por exemplo) para impedir qualquer ato de luta que possa vir de parceirxs afines que entendem que, enquanto alguém (família ou amigxs) continuar a dialogar e fazer o jogo estatal, não haverá maneira real de atacar seus interesses e retardar a repressão…

Fernando B.

Reclusório Norte, Cidade do México, 31/08/2017

tradução por tormentas de fogo

via CONTRAINFO